quinta-feira, 27 de maio de 2010

ESTADO POÉTICO

Eu preciso de um chocolate... Não, não vou comer de novo, mas é que talvez o açúcar me ajude a contar essa historinha tão singela...

Eu subi no ônibus com a mente meio que vazia, mas em estado poético... Estava com bolsa e pasta. Na bolsa, necessidades urgentes sempre à mão; na pasta, meu arsenal teórico deste semestre de faculdade.

É hábito de algumas pessoas o ser gentil nos coletivos, especialmente se o alvo da gentileza é alguém que está em pé segurando uma pasta pesada (tá, nem tanto...), e o gentil em questão é um belo rapaz, sentado. Ele pediu para levar minha pasta. Parei então ao lado dele e percebi que ele conversava havia algum tempo com uma moça sentada ao seu lado, ele no corredor, ela próxima à janela.

Ele devia ter seus dezoito anos, ela talvez um pouco mais que ele. Mas nada era muito certo, eu não os conhecia... Até aquele momento em que passei a observar os dois.

Não eram namorados... Talvez nem amigos... Parecia se conhecerem a bem pouco tempo, o suficiente. Pelo que consegui ouvir, ela iria certamente descer antes dele, mas depois que cheguei (não que minha chegada tenha tido alguma importância), ao que me parece ela mudou de ideia e decidiu ir com ele a um lugar comum aos dois.

A cabeça dela estava baixa, evitando olhar para ele, que não parava de falar e de mexer as mãos.

Sei que isso é feio, não estou sendo muito correta ao falar assim da vida alheia, tão alheia, eu nem os conheço... Mas é que tem cenas que são tão belas que chegam a parecer presentes para nós, com a mente meio que vazia e estado poético.

Entre os dois havia tímidos sorrisos, tímidos olhares. Os dele demonstravam claramente sua intenção. Os dela eu não sei, mas tenho quase certeza de que correspondiam às intenções dele. Período de silêncio. Deles e meu. Disfarçadamente atenta e distraída para não incomodar. Novos sorrisos e algo cochichado ao ouvido. Quase deu para ouvir, mas me distraí tanto para que eles não percebessem que também eu não percebi.
Ao virarmos uma esquina, ele apontou o céu e comentou qualquer coisa sobre o efeito do sol nas nuvens, sobre a beleza do pôr-do-sol... Que homem no mundo faz comentários deste tipo, meu Deus?! Foi a prova de que eu precisava. Tinha realmente algo especial ali. Achei lindo. Ele também parecia estar em estado poético.
Não pude continuar a observá-los, estava ficando indiscreta demais. Meu ponto chegou, tive de descer.
Mas esta noite eles vão se beijar.

Bruna Girão

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