Olhares
Olhares sobre pessoas, e acontecimentos... Olhares também sobre mim mesma e meus pensamentos... SEJA BEM VINDO(A)!
domingo, 14 de setembro de 2014
sábado, 14 de maio de 2011
Bodas
Era o aniversário de casamento deles. Cinco anos. Já era noite e a menina dormiria na casa da avó para que os pais pudessem desfrutar de um momento a dois, já tão raro.
Estava ela ainda às voltas com o artigo para o jornal do dia seguinte, comentando os últimos escândalos do governo. Era importante, valia sua promoção. Era só finalizar e enviar por email.
-Rapidinho, meu bem!
-Deixe que eu preparo o jantar hoje. Estou cheio de ideias pra esta noite.
-Amo você!
E ela continuou a escrever, rápida em seu computador, dava a entender ao marido que aquele trabalho realmente seria concluído em instantes. Foi quando começou a crise de criatividade. Ela pensava nos fatos, revia as notícias e simplesmente não conseguia formar uma opinião que valesse um artigo.
Ele, chef de cozinha de um restaurante italiano, sempre cheio de ideias, preparava na cozinha mais um de seus molhos especiais, receita exclusiva. Já tinha um cardápio exclusivo montado, mas o patrão não aprovara por medo de perder a clientela. Manteve-se o cardápio antigo. Mas a inspiração nunca faltava, e naquele dia, especialmente inspirado, embevecido de amor à mulher que escolhera para toda a vida e cheio de expectativa para aquela noite, criava uma nova receita.
Depois de muito pensar, finalmente um raciocínio lógico, uma ideia que apareceu como um flash lhe trazia de volta a lei que havia sido descumprida. Tecia todo um comentário baseado em leis e em propostas de governos não atendidas. Aquele era realmente um escândalo digno de notícias e artigos.
Finalmente. O melhor artigo de sua vida estava pronto...
E uma queda de energia acabou com todo o trabalho. Não conseguiu outra coisa senão rir, rir muito e chorar, como nunca antes havia chorado. Era o trabalho que lhe valia o reconhecimento pelo qual lutava havia anos!
O marido, vendo seu desespero, tentou consolá-la, mas o que ele entendia de artigos? Era um cozinheirozinho que se metia a chef. Ele que não se intrometesse. Onde já se viu dizer que tudo ficaria bem?
Entraram com o pedido de divórcio naquela semana.
Um ano depois, a imagem do sucesso: Tudo realmente ficou bem.
Ela fora promovida mesmo sem o artigo. Era uma excelente profissional e merecia a promoção. Ganhara o cargo de editora-chefe. Tremenda responsabilidade.
Ele também progrediu. Saiu do restaurante italiano que tinha medo de perder os clientes e abriu o seu, com suas ideias e seu cardápio exclusivo. Um restaurante experimental. Tremenda responsabilidade.
Quanto à menina? Ainda está com a avó. Até hoje.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Poesia
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
quinta-feira, 17 de junho de 2010
FELICIDADE
Ela bem queria um dia, uma única vez lembrar aquilo que a fazia infeliz... Mas ela não podia... Tão irremediavelmente anestesiada que era feliz o tempo todo.
Será que havia motivos para fazê-la chorar? Provavelmente não:
Na infância:
“Que picolé gostoso”
–Me dá esse picolé. – dizia o amiguinho que sempre queria as coisas dos outros.
“Toma” (e ela já se distraía com uma formiga que ia passando)
Na adolescência:
Pessoas rindo, conversando, estudando...
“Posso me sentar aqui?”
–Não. Este lugar está ocupado. Sai daqui.
...
“Escrevi esta carta para você”
(tempo de leitura) (risada sarcástica)
–Meu amor... Vê se te enxerga!
Ela não teve muitos problemas com amigos ou namorados...
Na idade adulta:
“Aqui está o meu currículo”
–Sinto muito, você não se encaixa no perfil (A loja de roupas)
...
“Oi, vim deixar o meu currículo”
– Desculpe, mas a vaga já foi preenchida. (Recepção de consultório médico)
...
“Vocês estão recebendo currículos?”
–Não. (Outro estabelecimento qualquer)
Ela também não teve problemas no trabalho.
E viveu assim, sem problemas, todos os dias de sua vida. Ela era realmente uma mulher feliz.
Bruna Girão
segunda-feira, 14 de junho de 2010
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Ne me quitte pas
Eu estava com raiva. Dele. Com ódio, mas não podia matá-lo. Nem me matar por sentir o que eu sentia, então resolvi sair, resolvi fugir, ir para bem longe, num lugar onde ninguém pudesse me encontrar...
Salto alto, preto, lindo... Ele teria achado sexy, mas não, não era pra ele... Estava escuro, não dava pra ver meus olhos vermelhos. Ah... eles são todos idiotas... O jeito de olhar era patético... Ao menos não se parecia com ele, embora tivesse o que eu queria... Ah, e como tinha... Mas quis saber meu nome, então tive que fazê-lo desistir da ideia... Que pena... era até bonitinho...
Espartilho e salto alto, preto, olhos vermelhos. Irresistível. Escuro. Olhares de cobiça – meus. Gravata e perfume de grife – adoro... Delícia... Mas quis saber de onde venho... estava tão quente e de repente ficou frio, gelado. Voei pra longe... Ah, como eu gosto disso!
Mas e ele? Sem mim deve estar quase morrendo... Só eu sei dar o que ele quer!
Escuro, sempre e ainda quero. Ainda estava quente, bem quente... Pra quê tanto desejo? Estava quente, bem quente, tanto que percebi mãos frias, firmes. Fingi gostar, mas o desejo – não o meu – era tanto que não resisti. “não dá pra contar quem sou, se contasse teria de matar você!” Se eu não quiser contar também... Mãos geladas... Prazer... Adoro isso!
Mas e ele? Logo vem me pedir perdão. Eu sei.