Ela bem queria um dia, uma única vez lembrar aquilo que a fazia infeliz... Mas ela não podia... Tão irremediavelmente anestesiada que era feliz o tempo todo.
Será que havia motivos para fazê-la chorar? Provavelmente não:
Na infância:
“Que picolé gostoso”
–Me dá esse picolé. – dizia o amiguinho que sempre queria as coisas dos outros.
“Toma” (e ela já se distraía com uma formiga que ia passando)
Na adolescência:
Pessoas rindo, conversando, estudando...
“Posso me sentar aqui?”
–Não. Este lugar está ocupado. Sai daqui.
...
“Escrevi esta carta para você”
(tempo de leitura) (risada sarcástica)
–Meu amor... Vê se te enxerga!
Ela não teve muitos problemas com amigos ou namorados...
Na idade adulta:
“Aqui está o meu currículo”
–Sinto muito, você não se encaixa no perfil (A loja de roupas)
...
“Oi, vim deixar o meu currículo”
– Desculpe, mas a vaga já foi preenchida. (Recepção de consultório médico)
...
“Vocês estão recebendo currículos?”
–Não. (Outro estabelecimento qualquer)
Ela também não teve problemas no trabalho.
E viveu assim, sem problemas, todos os dias de sua vida. Ela era realmente uma mulher feliz.
Bruna Girão