quinta-feira, 17 de junho de 2010

FELICIDADE

Ela bem queria um dia, uma única vez lembrar aquilo que a fazia infeliz... Mas ela não podia... Tão irremediavelmente anestesiada que era feliz o tempo todo.


Será que havia motivos para fazê-la chorar? Provavelmente não:

Na infância:

“Que picolé gostoso”

–Me dá esse picolé. – dizia o amiguinho que sempre queria as coisas dos outros.

“Toma” (e ela já se distraía com uma formiga que ia passando)

Na adolescência:

Pessoas rindo, conversando, estudando...

“Posso me sentar aqui?”

–Não. Este lugar está ocupado. Sai daqui.

...

“Escrevi esta carta para você”

(tempo de leitura) (risada sarcástica)

–Meu amor... Vê se te enxerga!

Ela não teve muitos problemas com amigos ou namorados...

Na idade adulta:

“Aqui está o meu currículo”

–Sinto muito, você não se encaixa no perfil (A loja de roupas)

...

“Oi, vim deixar o meu currículo”

– Desculpe, mas a vaga já foi preenchida. (Recepção de consultório médico)

...

“Vocês estão recebendo currículos?”

–Não. (Outro estabelecimento qualquer)

Ela também não teve problemas no trabalho.

E viveu assim, sem problemas, todos os dias de sua vida. Ela era realmente uma mulher feliz.

Bruna Girão

segunda-feira, 14 de junho de 2010

[...]
Tenho a impressão
que já disse tudo.
E tudo foi tão de repente.

Paulo Leminski

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ne me quitte pas

Eu estava com raiva. Dele. Com ódio, mas não podia matá-lo. Nem me matar por sentir o que eu sentia, então resolvi sair, resolvi fugir, ir para bem longe, num lugar onde ninguém pudesse me encontrar...

Salto alto, preto, lindo... Ele teria achado sexy, mas não, não era pra ele... Estava escuro, não dava pra ver meus olhos vermelhos. Ah... eles são todos idiotas... O jeito de olhar era patético... Ao menos não se parecia com ele, embora tivesse o que eu queria... Ah, e como tinha... Mas quis saber meu nome, então tive que fazê-lo desistir da ideia... Que pena... era até bonitinho...

Espartilho e salto alto, preto, olhos vermelhos. Irresistível. Escuro. Olhares de cobiça – meus. Gravata e perfume de grife – adoro... Delícia... Mas quis saber de onde venho... estava tão quente e de repente ficou frio, gelado. Voei pra longe... Ah, como eu gosto disso!

Mas e ele? Sem mim deve estar quase morrendo... Só eu sei dar o que ele quer!

Escuro, sempre e ainda quero. Ainda estava quente, bem quente... Pra quê tanto desejo? Estava quente, bem quente, tanto que percebi mãos frias, firmes. Fingi gostar, mas o desejo – não o meu – era tanto que não resisti. “não dá pra contar quem sou, se contasse teria de matar você!” Se eu não quiser contar também... Mãos geladas... Prazer... Adoro isso!

Mas e ele? Logo vem me pedir perdão. Eu sei.

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